Sustenta-me

Na semana passada, viajei para a Califórnia para passar uns dias com minha tia de 91 anos de idade, que também é cega e que está quase morrendo em uma unidade especializada de enfermagem. Ela costumava dizer que eu era como uma filha para ela, embora, quando ela ficava brava, não poupasse palavrões na minha presença nem de qualquer outra pessoa. Ainda assim, eu a amava. O processo de envelhecimento tomou conta de seu corpo e a demência senil, de sua mente. Como uma criança amedrontada, ela gritava e chorava copiosamente quando os cuidadores gentilmente a transportavam.

Titia nunca quis saber muito de religião, embora uma vez ela tivesse me presenteado com o Novo Testamento de sua infância.

Na contracapa estava impressa a promessa do cristão e ela, com 10 anos de idade, havia assinado embaixo. Quando eu tinha cerca de 3 anos de idade, minha saudosa mãe me ensinou a orar pela titia. Eu não entendia muito o porquê.

Eu não era madura o suficiente para entender sobre o estilo de vida imprudente da titia e seu alcoolismo. A vovó, que morava conosco, simplesmente dizia que a titia “sabia muito bem das coisas”. Anos mais tarde, eu li sobre o rei Manassés (2Cr 33; 2Rs 21).

Ele também “sabia muito bem das coisas”.

Ele sabia muito bem que não deveria levar o povo de Deus a se envolver com feitiçaria e idolatria. Ele sabia muito bem que não deveria ter matado tantas pessoas inocentes e que – nas palavras de Deus – não deveria ter enchido Jerusalém com sangue “de um extremo ao outro” (2Rs 21:16). Então, quando esse bárbaro acima de todos os bárbaros, chegou ao fundo do poço, tornando-se cativo de uma nação inimiga, ele teve a cara de pau de se voltar para Deus e dizer, com todas as letras: “Eu me apartei de Ti, então, por favor, Deus, sustenta-me!” E sabe o que aconteceu? A Bíblia diz que “o Senhor Se tornou favorável para com ele” (2Cr 33:13).

Você consegue acreditar nisso? Entretanto, precisamos nos lembrar de que estamos falando de Deus aqui. Então, na semana passada, sentei-me ao lado da cama da titia enquanto seu pranto se transformava em gemidos, depois de ter tido uma crise de choro após o banho. Lágrimas também escorriam pelo meu rosto enquanto eu acariciava seus cabelos brancos, e sussurrei: “Titia, eu te amo. E Jesus também!” Lentamente, minha tia cega virou a cabeça na direção da minha voz. “Em breve todos nós ficaremos bem novamente, titia.

Mas, por agora, diga a Jesus: ‘Sustenta-me’, e Ele te susterá.” Os olhos sem visão da titia ficaram fixados no espaço por um tempo até que seus lábios vagarosamente se abriram em um sorriso raro. Senti que ela apertava minha mão.

Nunca deixarei de me maravilhar de como Deus susteve o perverso rei Manassés. Tenho fortes suspeitas de que Ele está sustentando minha titia também. E Ele sustentará a cada uma de nós!

Carolyn Rathbun Sutton