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Da janela do escritório do apartamento onde moramos, tenho a melhor visão possível da cidade. Melina e eu nos mudamos há alguns meses para Artur Nogueira.
É um pequeno município no interior de São Paulo, com pouco mais de 50 mil habitantes. Vivemos no único prédio da cidade. Alguns dias atrás, fiz uma compra pela internet, e uma pessoa da empresa me ligou para perguntar sobre uma referência do endereço. Eu disse que morava no prédio. “Qual prédio, senhor?”, ela quis saber.
A minha resposta não poderia ser outra: “O único da cidade.” Ela riu e demorou a acreditar. Como o edifício está localizado perto de uma das entradas da cidade, do alto, é possível ver boa parte das casas da pequena Artur Nogueira.
É noite agora. Enquanto escrevo, posso ver pela janela as luzes acesas que desenham o contorno dos quarteirões. Não há carros nas ruas a essa hora.
A cidade dorme. Do 11º andar, olho para o telhado das casas e tento imaginar o drama em cada uma. É o casal que hoje descobriu a gravidez, mas, na casa ao lado, o idoso solitário sente saudades de sua companheira de décadas e, desde então, vem tentando encontrar razão para os dias que ainda lhe restam.
Em uma casa está a moça que celebra com os pais a aprovação no vestibular, mas, na outra, o rapaz que não consegue mais sair do quarto e já perdeu a conta de tantas crises de ansiedade. Em cada endereço, uma história.
O texto de hoje traz palavras do Eterno.
Ele habita em um lugar alto.
Se você perguntar a uma criança de três anos de idade, como meu sobrinho Klaus, onde Deus está, é provável que ela aponte com seu dedinho indicador na direção do céu.
Desde pequenos, nós aprendemos a chamar Deus de Papai do Céu.
Ele está no alto. Está acima de nós, mas também habita no coração contrito de quem pisa o chão da vida. Olho para cima e imagino Deus ali na varanda do Céu olhando para mim agora. Ele sorri e diz: “Filho, você é muito amado. Conheço sua história e tenho o futuro nas mãos. Viva este dia sem medo. Eu nunca vou perder você de vista.”