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Na esquina de sempre, uma luz diferente chamou a minha atenção.
Era um malabarista. Eu, que já havia visto laranjas, facas, argolas e até bolas de cristal sendo lançadas para o alto, agora tinha os olhos roubados pelas tochas incandescentes manipuladas pelos garotos do semáforo. Era alta noite.
O silêncio das ruas fazia com que as chamas do espetáculo quase gritassem pela atenção dos motoristas. Olhei em volta e, de fato, todos estavam envolvidos pela atuação do artista anônimo. Talvez por perceber o mesmo, ele passou a arriscar novos lances.
As tochas iam cada vez mais alto, mais rápido, desenhando figuras inesquecíveis, bem ali, sobre a faixa de pedestres. Era quase possível ouvir os suspiros do público que se encontrava atrás dos volantes. E foi bem nessa hora que o sinal abriu.
O que você acha que aconteceu? Acha que os motoristas abriram a porta do veículo onde estavam, desceram e aplaudiram de pé o espetáculo do moço? Claro que não! Todos foram embora, e o malabarista voltou para casa de mãos vazias.
Enquanto completava o trajeto até a minha casa, fiquei pensando no que havia acabado de acontecer. Pensei no malabarista e nos cristãos – como ambos correm perigo de esquecer qual é o seu propósito afinal. Deus nos concede luz.
São dons especiais, recursos, criatividade e portas que se abrem.
Qual será o objetivo de tanto talento, tanta eloquência, perícia, beleza e habilidade? Eu penso que tudo isso foi oferecido não para ser escondido dentro de um templo nem para arrancar aplausos ou suspiros de admiração. Deus nos concede luz não para que simplesmente tenhamos luz, mas para que sejamos luz. Foi o próprio Jesus quem disse: “Vocês são a luz do mundo.” Isso tem que ver com identidade e propósito. Uma vida que brilha desperta atenção. “Para que vejam [...] e glorifiquem o Pai de vocês, que está nos Céus” (Mt 5:16) – essa é a consequência e o objetivo. Na vida espiritual, a relação com a luz é assim: se você tem, seja.
Que a luz do Céu concedida a você seja vista pelas pessoas que cruzarem seu caminho hoje. Que, por meio de sua vida, alguém enxergue a beleza das realidades da fé.