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Naquele dia, eu estava cansado.
Tudo o que eu mais queria era viajar em silêncio.
Conferi o horário: meio-dia e meia.
O motorista deu o último aviso.
Os passageiros entraram, e o ônibus partiu.
Tudo estava normal… até que um menino pequeno começou a chorar.
Ouvi a mãe comentar que ele tinha três anos.
Seus soluços se misturaram ao som do motor que o levava para longe.
Eu nunca tinha ouvido um choro daqueles.
Não sei dos pormenores da história, mas ouvi que aquela família havia passado o final de semana na cidade. Ali, o menino conhecera a irmã mais velha.
Nos poucos dias que passaram juntos, um encanto especial os uniu.
Agora, o garoto sem-nome chorava como gente grande ao se despedir de um pedaço seu. A mãe não sabia o que fazer. Ofereceu o brinquedo novo, mas ele não quis.
Um biscoito, um livro, um afago. Mas sem sucesso.
Nada podia aliviar a dor que nem ele sabia explicar.
Olhei novamente para o menino e, em seus olhinhos cheios de dor, consegui enxergar o menino que eu levava por dentro. E chorei. Chorei calado, sozinho, escondido.
Mas chorei a mesma dor. Aquela era uma época de muitas incertezas em minha vida. Havia trancado a faculdade, estava morando em outro país, tinha terminado um namoro recentemente, sentia muita saudade da minha família e dos meus amigos.
O início e o fim das coisas se confundem dentro de nossa pequena caixa de areia. São vizinhos parecidos. Por um momento, as palavras de Salomão me pareceram derrotistas, uma escolha pequena e pouco ousada: ele preferia o fim. No entanto, tudo se torna claro quando encaramos seu discurso em uma perspectiva mais ampla. Salomão não falava de um final qualquer – de um relacionamento, de um ano ou de um sonho –, mas do final de todas as coisas, do término da viagem. No final, as coisas tomarão seu devido lugar. Eu não sei o que você leva na bagagem das suas lembranças. Não sei onde foi seu último encontro nem quando será sua próxima despedida. Não sei em que estação desceu a pessoa amada nem a que horas o assento ao seu lado será ocupado por sua “cara-metade”. Nada é muito certo durante a viagem da vida. Quanto a mim, quero apenas desembarcar muito logo no país onde não existe mais saudade.