|
Era uma sexta-feira. O expediente havia acabado, e a multidão disputava espaço nas ruas. Estava chovendo. Trânsito pesado, buzinas insistentes.
Eu ia no banco do carona, até que o sinal fechou.
Nessa hora percebi uma mulher em pé, sem guarda-chuva, diante do capô aberto do carro enguiçado. A chuva engrossou. Nosso carro parou bem ao lado.
Em silêncio, decidíamos se era possível ajudar.
Estava em cima da hora do próximo compromisso.
Meu amigo abaixou o vidro: – Ei, a senhora está precisando de ajuda? Quer que eu ligue para alguém que possa ajudar? – Não, tudo bem.
Vou empurrar o carro até o posto da esquina.
– Qual é o problema com o carro? – Ah, ele está ligando, mas perdeu a força… – Ah, sei… De duas, uma: ou é bateria ou são as velas… Dentro do carro, seco e confortável, assistia a uma aula de mecânica oferecida a uma mulher sozinha, debaixo de chuva, com o carro quebrado. O sinal abriu. Fomos embora. Conto essa história constrangido.
Não esqueço o rosto daquela mulher.
Se pudesse, voltaria à cena e faria diferente.
Hoje fico pensando se não corremos o risco de viver algo assim em nossa experiência de fé: termos todas as respostas, sabermos as profecias do Apocalipse, entendermos tudo sobre lei moral e cerimonial, mas nos fecharmos confortavelmente dentro de nossos templos enquanto há pessoas lá fora que precisam de nós.
Pouco adianta tudo o que temos e sabemos se permanecemos assentados e secos enquanto há mães solo chorando sozinhas na chuva.
Enquanto há pais enlutados na chuva.
Enquanto há adolescentes confusos quanto ao futuro na chuva. Enquanto há idosos solitários na chuva. Enquanto há uma mulher traída pelo marido na chuva.
Enquanto há um jovem ferindo os pulsos na chuva.
Ellen White escreveu: “O Senhor designou os jovens para serem Sua mão auxiliadora” (Serviço Cristão, p. 26 [30]). Desde que o pecado entrou neste mundo, há uma chuva que não cessa. Hoje, então, abra bem os olhos e tente enxergar alguém para ajudar.
Mesmo que seja necessário se molhar.